O governo do Brasil e a petrolífera estatal Petroleo Brasileiro SA resolveram uma longa disputa sobre uma das áreas petrolíferas mais promissoras do mundo, abrindo caminho para um leilão de grande sucesso ainda este ano.
O conselho nacional de energia anunciou nesta terça-feira que o governo pagaria à Petrobras, como é conhecida a empresa, US $ 9,058 bilhões para encerrar sua disputa contratual referente à "área de transferência de direitos" (TOR).
O que é isso?
A área de TOR é uma zona de cerca de 2.800 quilômetros quadrados ao largo da costa do sudeste do Brasil, onde bilhões de barris de petróleo estão presos sob uma espessa camada de sal sob o fundo do oceano. Faz parte de uma grande zona produtora de petróleo conhecida como pré-sal, que surgiu como uma das mais promissoras peças de petróleo convencional do mundo.
A TOR foi demarcada em um acordo de 2010 entre o governo e a Petrobras, quando a empresa levantou cerca de US $ 70 bilhões na maior oferta de ações já realizada no mundo na época.
Para manter o controle da empresa, o governo concedeu à Petrobras o direito de extrair 5 bilhões de barris de petróleo na área de TOR em troca de novas ações no valor de 74,8 bilhões de reais, ou cerca de US $ 42,5 bilhões na época.
O governo também reservou uma "área de contingência" de cerca de mil quilômetros quadrados, caso a área original se mostrasse insuficiente.
Por que a disputa?
O acordo de TOR previa que a Petrobras e o governo revisassem alguns termos do contrato quando os campos fossem declarados comercialmente viáveis, levando em conta mudanças nos preços do petróleo, custos de produção e outras variáveis.
A Petrobras começou a declarar os campos de TOR comercialmente viáveis em 2013, começando com o campo de Búzios, e vem regateando as revisões dos contratos com o governo desde então, uma vez que os preços do petróleo subiram acentuadamente e estudos mostraram maiores reservas na área.
O regulador de petróleo brasileiro ANP agora acredita que existem cerca de 6 bilhões a 15 bilhões de barris de petróleo na área de TOR, além dos 5 bilhões de barris originais concedidos à Petrobras.
O governo brasileiro carente de recursos não conseguiu oferecer esse óleo adicional em leilão porque não chegou a um acordo com a Petrobras no contrato revisado da TOR.
Até os últimos meses, os dois lados pareciam distantes. Mas desde que o novo presidente Jair Bolsonaro nomeou um novo executivo-chefe da Petrobras em janeiro, as negociações parecem ter acelerado, culminando no acordo de mais de US $ 9 bilhões.
O que vem depois?
O governo agendou para o dia 28 de outubro um leilão pelos direitos de extrair o excedente de petróleo na área de TOR, dividido em quatro campos distintos chamados Atapu, Búzios, Itapu e Sépia.
Autoridades do governo disseram que o leilão pode arrecadar cerca de 100 bilhões de reais (26 bilhões de dólares) ou mais.
A Petrobras e o governo ainda estão discutindo como os vencedores do leilão provavelmente farão parceria com a estatal petrolífera, que já está produzindo em Búzios e tem o direito de primeira recusa a permanecer como operadora nos quatro campos.
Independentemente do acordo final, os vencedores do leilão serão obrigados a compensar a Petrobras pela infraestrutura e pelo trabalho exploratório em que a empresa já investiu.
Embora o valor exato dessa indenização não tenha sido liquidado, a Reuters informou no final do ano passado que a compensação, que é separada do pagamento do governo, deve ser de pelo menos 30 bilhões de reais (US $ 7,9 bilhões).
Quem está interessado?
O leilão de outubro deve atrair uma série de grandes empresas globais de petróleo, que vêm discutindo a oportunidade com autoridades do governo nos últimos meses.
Não menos importante entre as partes interessadas é a própria Petrobras. Enquanto a empresa está cortando agressivamente a dívida, o CEO Castello Branco disse que o pagamento de US $ 9 bilhões do governo seria usado para participar do leilão.
Entre as empresas com ativos de exploração e produção adjacentes ou relativamente próximas da área de TOR, que oferecem potenciais economias de custo, estão a Total SA, a Royal Dutch Shell PLC e a chinesa CNOOC Ltd e a CNPC.
No entanto, eles podem precisar ficar de olho na interferência política nos próximos seis meses.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, argumentou que o Congresso deve aprovar o acordo entre o governo e a Petrobras antes que o leilão possa ser realizado. Outros, incluindo o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, contestam a necessidade de aprovação do Congresso.
($ 1 = 3.82 reais)
(Reportagem de Gram Slattery; edição de Jonathan Oatis)