A Petrobras pretende fazer da África sua principal região de desenvolvimento fora do Brasil, disse o CEO da gigante estatal do petróleo à Reuters na quinta-feira, durante uma ampla entrevista sobre a estratégia da empresa.
A Costa do Marfim estendeu o "tapete vermelho" para a Petrobras explorar águas profundas e ultraprofundas em sua costa, ao dar à empresa preferência na compra de nove blocos exploratórios offshore na quarta-feira, disse a presidente da Petrobras, Magda Chambriard.
Ela acrescentou que Nigéria, Angola e Namíbia também manifestaram interesse em trabalhar com a gigante brasileira.
"Somos especialistas na margem leste do Brasil", disse Chambriard, citando semelhanças geológicas entre a região e a África. "A correlação entre o Brasil e a África é inequívoca, então precisamos ir à África."
Nos últimos anos, a Petrobras demonstrou interesse em comprar participações em ativos de petróleo no exterior, especialmente na África, na tentativa de aumentar as reservas enquanto enfrenta atrasos na obtenção de licenças ambientais para perfurar novos poços de petróleo na costa da floresta amazônica.
A Petrobras também está buscando explorar a costa da Índia, participando de um leilão de blocos de petróleo agendado para julho, disse Chambriard.
Os planos da Petrobras marcam um retorno ao continente africano após a empresa ter alienado ativos na região em governos anteriores, como parte de um amplo plano que fez a empresa se concentrar em áreas de alta produtividade nos campos do pré-sal brasileiro.
Os planos de explorar novos campos de petróleo são parte da estratégia de Chambriard para lidar com a tarefa crítica de equilibrar as ambições do presidente Luiz Inácio Lula de usar a Petrobras para impulsionar a economia e gerar lucros para seus investidores, ao mesmo tempo em que enfrenta o desafio global dos preços mais baixos do petróleo.
A Petrobras, um pilar da economia brasileira, também está no centro de uma tensão de alto risco dentro do governo Lula, que visa alavancar as receitas do petróleo para o crescimento econômico ao mesmo tempo em que apresenta o Brasil, anfitrião da próxima cúpula do clima COP30, como um campeão na luta global contra as mudanças climáticas.
Os planos da empresa de perfurar petróleo na costa da floresta amazônica, na região da Foz do Amazonas, enfrentaram atrasos na obtenção de licenças ambientais.
Mas Chambriard disse à Reuters que acredita que a empresa concluirá a última etapa para obter uma licença para perfurar na região na segunda quinzena de julho.
Enquanto isso, os planos da empresa na África já começaram a ser implementados.
Em 2023, comprou uma participação em um campo de petróleo offshore na África do Sul e, no início de 2024, comprou uma participação em campos na nação insular de São Tomé e Príncipe, onde espera perfurar um poço este ano, disse Chambriard.
Apesar dos esforços recentes, Chambriard disse que a empresa foi superada pela francesa TotalEnergies TTEF.PA por uma participação na descoberta offshore da Galp Energia no campo de Mopane, na Namíbia.
"Esperamos ser convidados" para desenvolver o Mopane, acrescentou Chambriard, sem dar mais detalhes.
Planos de Investimento Local
Os preços mais baixos do petróleo Brent levaram a empresa a cortar custos e simplificar projetos no próximo plano estratégico da Petrobras para o período de 2026-2030, disse Chambriard.
Durante a teleconferência de resultados do primeiro trimestre da empresa com analistas no mês passado, Chambriard já havia sinalizado uma mudança em direção à austeridade, agradando aos investidores. Mas Chambriard não esclareceu se os esforços de corte de custos impactariam os planos de investimento da empresa.
Se confirmado, um recuo nos planos de investimento pode marcar uma reversão drástica para a gigante petrolífera brasileira desde que Lula assumiu o cargo em 2023 e levou a empresa a investir mais para impulsionar a economia brasileira.
A empresa está pronta para finalmente ampliar seu papel na produção de fertilizantes no Brasil, já que espera retomar a operação em duas fábricas nos estados de Sergipe e Bahia até o final do ano, disse Chambriard.
O CEO também confirmou uma reportagem da Reuters de que a empresa está insatisfeita com o atual nível de controle que tem sobre a petroquímica Braskem BRKM5.SA e está buscando mudanças em um acordo de acionistas que possam dar à petrolífera mais poder no processo de tomada de decisões da Braskem.
A Petrobras tem 47% das ações com direito a voto na Braskem, mas nomeou quatro dos seus 11 membros do conselho e um diretor dos sete, representação que considera insuficiente, informou a Reuters na semana passada.
A Petrobras não tem interesse em ter controle majoritário sobre a empresa, mas quer mais poder sobre ela para "garantir sinergias", disse Chambriard, sem fornecer mais detalhes.
A Braskem é um "ativo muito importante", disse Chambriard. Mas, acrescentou, "do nosso ponto de vista atual, a gestão da Braskem não é o que queremos".
(Reuters - Reportagem de Rodrigo Viga Gaier, Marta Nogueira e Fabio Teixeira; edição de Natalia Siniawski, Marguerita Choy e Jamie Freed)