Big Oil surpreende o Brasil em falhanços em leilões consecutivos

Por Marianna Parraga e Gram Slattery7 novembro 2019
© Simon Mayer / Adobe Stock
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As principais empresas mundiais de petróleo esnobaram um segundo leilão brasileiro de petróleo na quinta-feira, repassando blocos no exterior e forçando autoridades a reconsiderar um sistema de licitações que dá uma posição privilegiada à estatal Petroleo Brasileiro SA.

O único bloco premiado na licitação de quinta-feira foi para a Petrobras, como é conhecida a empresa estatal brasileira, e a empresa estatal chinesa CNODC, uma unidade da China National Petroleum Corp, que ofereceu a oferta mínima. Quatro outros blocos não receberam ofertas.

O resultado, após uma falta de interesse estrangeiro em uma rodada ainda maior de quarta-feira, foi um alerta para aqueles que esperavam nesta semana coroar o Brasil como campeão incontestado da indústria petrolífera latino-americana.

Analistas concordaram nos últimos dias que as perspectivas promissoras de petróleo na área do pré-sal no Brasil, onde bilhões de barris de petróleo estão presos sob uma camada de sal no fundo do mar, estão ficando caras mesmo para as grandes petrolíferas com forte interesse. Os blocos de águas profundas também exigem enormes investimentos de longo prazo em comparação com alternativas como campos de xisto.

"Todas as principais empresas estão focadas na disciplina de capital e valor versus volume. Elas não farão lances a qualquer custo pelos ativos do pré-sal", disse Marcelo de Assis, chefe da América Latina a montante da consultoria Wood Mackenzie.

O novo governo de direita do Brasil prometeu reformas favoráveis ao mercado e trabalhou para reduzir o papel da Petrobras no setor de energia, para que as empresas mais capitalizadas possam aproveitar suas vastas reservas.

Após os escassos leilões, as autoridades sugeriram que precisavam fazer ainda mais, em particular o direito de preferência de que a Petrobras tivesse de operar qualquer campo no chamado "polígono do pré-sal".

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o acordo de compartilhamento de produção na área é "péssimo", sugerindo que um modelo simples de concessão seria melhor e que zombaria da rodada de quarta-feira que viu a Petrobras ganhar direitos aos campos onde já opera.

"Enfrentamos um enorme desafio para, no final, vender para nós mesmos. Passamos cinco anos conversando sobre isso. Fizemos um esforço espetacular, estudando, debatendo - e no final foi um não comparecimento", disse Guedes a uma audiência. em Brasília na quinta-feira.

Os comentários de Guedes e outras autoridades aumentaram os sinais de que o Brasil estava pronto para virar a página das leis do petróleo que colocam a Petrobras no centro do desenvolvimento offshore há anos, prejudicando a concorrência e acumulando dívidas para a empresa.

A Petrobras fechou em alta de 4% na quinta-feira, em meio a pedidos de um modelo de concessão mais direto nas próximas rodadas de petróleo.

Lições aprendidas
Decio Oddone, diretor da ANP, disse que os direitos especiais da Petrobras desencorajaram alguns rivais, acrescentando que ele ficou surpreso com os resultados, pois esperava que pelo menos três blocos fossem premiados na rodada de quinta-feira.

A própria Petrobras não apresentou propostas para dois blocos em que inicialmente exercera seus direitos preferenciais.

Sua única oferta na quinta-feira foi uma oferta mínima para o bloco Aram, com um bônus de assinatura de 5 bilhões de reais (US $ 1,2 bilhão), junto com a Companhia Nacional de Exploração e Desenvolvimento de Petróleo e Gás da China (CNODC), que teve uma participação de 20%.

O ministro de Minas e Energia do Brasil, Bento Albuquerque, disse que "não parece fazer sentido" que o Brasil mantenha os direitos especiais da Petrobras exclusivamente na área. Ele disse que o governo deve aprender uma lição dos leilões para obter melhores resultados no futuro.

"Entendemos pelo que as empresas nos dizem que nossas áreas continuam sendo muito atraentes e produtivas", afirmou o ministro. Outras autoridades apoiaram o sentimento, apontando para uma forte demanda estrangeira nas rodadas anteriores do pré-sal desde 2017.

O Brasil também fracassou na quarta-feira em conceder dois dos quatro blocos na rodada de petróleo mais ambiciosa do país, já que as altas taxas de assinatura e o domínio da Petrobras na área de "transferência de direitos" (TOR) assustaram as empresas de petróleo.

"O Brasil está competindo com oportunidades em todo o mundo", disse Assis, da Wood Mackenzie. "Os ativos do pré-sal no Brasil são atraentes, mas têm um preço".


($ 1 = 4,0836 reais)

(Reportagem de Gram Slattery, Marianna Parraga e Marta Nogueira; reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, Roberto Samora e Gabriel Ponte; Edição de Brad Haynes, Marguerita Choy e Leslie Adler)

Categories: Águas profundas, Energia